domingo, 31 de outubro de 2010

Conto Dezoito. Ah, a Ciência.







O Laboratório


Depois das aulas Fernando Goiabeira quis corrigir as provas. Entrou no laboratório da universidade e sentiu de pronto um odor estranho. Parecia que sua cabeça doía e sentia uma ligeira vertigem. Começou a ter estranhas sensações. Sentia o seu corpo inchar e ganhar contornos redondos, como um grande pote. Percebeu que estava ficando transparente, dava para ver seus órgãos internos: o coração por trás das costelas, as vísceras e até o seu fígado. Atinou sobre essas estranhas sensações, de como estava se sentindo um recipiente. Daqui a pouco acharia que poderia desatarraxar o alto da cabeça e retirar ou colocar alguma coisa dentro dela.
Não deu outra. Desatarraxou a tampa. Mas que dor de cabeça! A primeira coisa que saiu lá de dentro foi um compendio inteiro de química orgânica. Seguida de aulas de física quântica que tivera na época do mestrado. Mas o que era isso que saia agora meu Deus? Não podia acreditar. Um volume inteiro da enciclopédia britânica, que lera ainda na juventude! Começava a sentir vertigens. Algumas proposições também escapavam. Cuspiu um silogismo categórico. Mas estava disposto a encerrar essa experiência bizarra. Sabia agora que alguma coisa dentro desse laboratório lhe causara essas visões. Mas estava fraco. Fernando sentiu de repente que se esvaziava como um balão de gás. Mas que maçante! Era agora praticamente só pele e osso. Suas roupas faziam bolo por cima da pele. E de sua cabeça não saia nem uma vogal ou uma interjeição! Dali a pouco não conseguiria mais pensar!
Um aluno magro de óculos fundo de garrafa coloca a cabeça na porta. Não viu ninguém. Entra no laboratório. Olha para os equipamentos de química. Súbito repara numa substancia escura, gosmenta no chão. Põe uma luva. Pega a substancia gelatinosa. Coça a cabeça em sinal de reflexão. E coloca a substancia em uma pipeta. Mas cadê o professor? Descobre as provas deitadas na mesa. “Mas que vadio!”- pensa. Procura a sua prova na pilha. Acha e fica contente com a nota. Então sai assobiando e gingando.