sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Conto nove. Os pés molhados no Impossivel.





Beijo de Peixe

No horizonte desfigurado pelas nuvens, a beleza estonteante agora dormia. Nas pétalas brancas de flores amordaçadas daquele arbusto onde ele acordou. No mistério. Naquela imagem marinha. Isso foi depois. Voltemos ao momento que eles chegaram. Na beleza e tolerância daquele mar de escolhos do farol ilhado. Tudo estava normal, mas Ernani via algo de ilusório nisso. Naquela ilha estendida, terra horizontal, qual uma cobra de elementos caóticos. O local onde tudo aconteceu. Ele não queria falar nisso de imediato, mas tinha certeza que era uma loucura, o inferno que viveu, ou deveríamos dizer o êxtase? De como em um dia de verão ele foi levado a aquele lugar. Em uma lancha veloz. O mar escapado. Em uma manha tórrida e manhosa. Ele tinha ido com Noêmia sua noiva e o casal de amigos Franco e Joana. Tudo tinha sido planejado minuciosamente. As passagens, a hospedagem e enfim o passeio ate a ilha dos coqueiros. Eles pretendiam ver o farol, que era famoso naquela região. Foi Joana a esposa do amigo que primeiro percebeu.
-essa ilha é engraçada. Parece uma cobra. Vocês não acham?
-essa minha esposa é mesmo imaginativa...
-mas até que nós duas estamos de acordo. Olhando daqui ela é horrível. Que essa ilha a noite deve ser assustadora, ah isso deve!
-o que é isso Noêmia? Bem que a gente poderia fazer a nossa festa de casamento aqui! Seria diferente! Um verdadeiro acontecimento.
-esse meu noivo é mesmo cheio de idéias. Só se for com outra mulher.  Eu não. Acho esse lugar meio assustador. Como é que conseguiram fazer disso aqui, um local de veraneio?
Chegaram ao pequeno e rudimentar bangalô. A luz era proporcionada por velas e candeeiros. O jantar foi maravilhoso: um arabaiana grande cozida, lagostas na manteiga e vinho branco para acompanhar. Os quartos apesar de rústicos eram grandes e confortáveis. A vista para o mar era realmente extasiante. E após toda essa farra, foram dormir.
“A areia estava morna e macia. De vez em quando as ondas traziam a água fria até os pés de Ernani e ele sentia o vento sudoeste no rosto. Uma lua insinuava-se por entre as nuvens baixas. Os sons das ondas se confundiam com uma estranha voz. Ela chamava o seu nome e era uma voz de mulher agradável e caliente. Estava só na praia. Que curioso, não se lembrava de ter ido a esse lugar. Estaria sonhando? Porque estava ali? Aonde estão os outros? Uma mulher aparece ao longe e vem a sua direção. Será que é Noêmia? Mas que surpresa ela havia inventado? Ernani esfrega os olhos e percebe que não era sua noiva. Que a pessoa que se aproxima era uma completa estranha. E na perspectiva que ele tinha, a imagem que se aproximava era bem estranha. Não parecia ser gente. Embora fosse. Uma mistura de luz e escuridão de estrelas envolvia essa pessoa. Era como se fosse um ser marinho com forma humana. E que, de uma maneira alegórica, mágica, desprendia uma forte energia. Uma energia sexual. Essa figura era extremamente feminina. Envolvente e atraente, embora diferente de tudo que ele já havia visto em sua vida. Ela o abraçou. Passou sua língua no pescoço de Ernani. Logo uma fogueira foi acessa. Os corpos queimaram. Ele a possuiu. Ela o dominou. E logo chegaram ao êxtase. Nessa beleza estranha ela o olhou e sorriu. Lindamente. Ele sentia o corpo adormecer. A cabeça pesava. E então suas vistas não conseguiram ficar abertas dentro daquela beleza”.
E foi pela manha que acordou, debaixo de um coqueiro por entre um arbusto de flores brancas, perto da praia. A imagem dessas flores brancas ficaria gravada na sua memória, como um símbolo do inusitado. No caminho dos bangalôs. Ele se espreguiçou, com o rosto inchado de sono, esfregou os olhos. Que sonho estranho. Bateu à areia e dirigiu-se para o balcão de recepção. O administrador estava de cabeça baixa, o mesmo que havia trazido ele e os outros, vendo alguns papeis sobre o balcão. Quando ele levantou a cabeça e viu Ernani, no mesmo momento ficou branco de espanto. Limpou os óculos. Titubeou alguma coisa:
-é o senhor mesmo Sr. Ernani?
-mas é claro que sou eu. Só estou meio tonto. Com uma sede fora do comum. Aonde eu posso beber um pouco de água?
-mas onde o senhor esteve todo esse tempo? Procuramos o senhor por todos os lugares!
-eu sei que bobeei. Embora ainda não consiga entender bem como. Mas eu só passei uma noite fora. Preciso explicar isso a Noêmia e preciso de um banho e um bom café da manhã. Estou bem, não era necessário todo esse cuidado Sr. Vitor.
-como não Sr. Ernani? A polícia foi chamada! A marinha foi chamada! A sua noiva e seus amigos ainda ficaram um bom tempo para acompanhar as buscas!
-mas o que você está dizendo homem? Que estória é essa!
-mas o senhor é dado como desaparecido, já faz um mês inteiro!

  

Um comentário:

verônica disse...

mistérios,adoreiiiiiii