quinta-feira, 22 de novembro de 2012


 
Microconto:   Maldição Eterna

 

Um bruxo muito perverso lançou um encantamento sobre uma cidade. Disse a todos seu vaticínio: não terão opções em suas vidas, terão que deixar suas marcas indeléveis na inutilidade, serão motivos de escárnios para os donos do poder, e farão viagens infrutíferas para seus filhos. Dizendo isso, arrumou o seu cabelo, dirigiu-se para a cabine de votação e votou em branco.

 
 
Microconto:  Cavalagens Escolares

 

Era uma vez, um cavalo que galopava no shopping. Relinchava, defecava, e devorava um bolo. Tinha a idade de um rapazote, e cuspia em quem passava. Mas um belo dia apareceu um desconhecido, e deu três tiros no pobre animal. A partir desse dia infeliz, todos os cavalos passaram longe do shopping, e ficaram no colégio.

 
A Gestante

 Em uma pequeníssima vila do sul do país, vivia em uma comunidade alternativa, um anão, um velho erudito, dois vendedores de sonhos, três desertores do exercito, uma ninfa do bosque, uma dançarina do véu, e uma domadora de feras cega. Eles viviam em completa harmonia, até que a ninfa apareceu grávida. Como nenhum dos homens quisera assumir a paternidade da futura “criança”, o delegado de policia foi chamado. O homem todo vestido de negro chegou à vila em mutismo absoluto. Com uma folha de papel as mãos, mandou que os homens ficassem em fila, como em uma inspeção militar. Fez uma inspeção geral dos pés a cabeça dos suspeitos, com olhos graves que perfuravam as almas daqueles, simplesmente gemendo baixinho: “hummm”, “huummmm”. Subitamente parou, fechou os olhos, levantou um dedo aos céus para sentir a direção dos ventos, e com um gesto teatral apontou o mesmo dedo para um senhor magro, calvo, que usava uns pequenos óculos redondos. O homem diante do choque da descoberta de seu desatino baixou a cabeça e começou a chorar. Os outros perguntaram ao delegado como ele havia descoberto. Que segredo havia usado. O homem da lei respondeu que havia lido na lista as conquistas do erudito. Engravidar uma ninfa? Tal ideia só poderia ter saído da mente de um poeta.

 
 
O Sábio e a Beleza

 

Um grande mestre que a muito estava longe dos apetites da carne, um dia foi visitado por uma mulher lindíssima. Ela no intuito de impressionar esse conhecido ermitão, vestiu o seu vestido mais sensual, pintou-se e enfeitou-se com um esmero que a sua beleza cegava de tanto brilho. Fez isso e foi até ele para lhe fazer uma única pergunta:

“Meu adorado mestre, vim aqui apenas para perguntar-lhe o porquê de não podemos viver para sempre”? “Por acaso não seria mais produtivo se pudéssemos viver e produzir ininterruptamente em prol do progresso do mundo”?

O sábio homem sorriu do tom filosófico da jovem, e respondeu com voz calma:

“Se contentaria em vestir apenas um vestido de dançarina por toda sua vida, em dançar para todos os homens, em todas as festas, apenas dançar, e nada mais”? Não creio que aguentasse, o incomodo de usar apenas um vestido, por quarenta, cinquenta anos, e apenas dançar, e não fazer nada mais. Pois ansiar em ser algo mais é da natureza humana. Por mais que duvide, por mais coisas que existam na terra em termos materiais, não conseguiríamos fazer tudo que a nossa essência espiritual necessitaria em uma única vida. Aqui nessa terra em que vivemos, é necessário que mudemos de roupas muitas vezes, para que possamos cumprir infindáveis tarefas e para que conheçamos muitas e muitas coisas, um monge não se veste como um monge para ir à guerra, e tampouco um guerreiro de armadura faz as tarefas do templo aparamentado para a guerra. Se vivesse para sempre com o mesmo vestido de dançarina, o que faria se um dia cansasse de sua beleza de mulher? Pois lhe afirmo preciosa filha, que a beleza física até ela cansa a mente quando essa percebe a verdade do mundo. Por acaso gostaria de ser uma vestimenta, ou de ser aquele que é o dono da vestimenta?

A bela mulher baixou a cabeça em reverência, e agora acrescentada da formosura do conhecimento, se retirou da presença do sábio homem.