segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Uma Fuga Espetacular.





FUGA DO MORRO DO CRUZEIRO RUMO AO COMPLEXO DO ALEMÃO.

As formas escuras corriam pela estrada de terra. Em sua fuga alucinada se atropelavam se mordiam e se misturavam como impurezas. Rolavam uma sobre as outras como bolas de farrapos: sujas, enfurecidas, mirabolantes e covardes. Eram tantas que na virada da esquina quase antepararam aquela fuga estranha. Por alguns instantes ficaram amontoadas como um monte de bosta. Mas o terror era maior. E como ratos, pulavam e se esgueiravam. Enquanto fugiam dos tiros.
Um grupo de “caçadores” observava “os ratos” por miras telescópicas. O mais alto coçou a cabeça por baixo do boné, e perguntou para o mais baixo:
- Você trouxe a gaiola?
- Trouxe.
- E as cordas? Trouxe aquelas que eu pedi? As de cerdas de náilon?
- Também.
- Pelo o que estou vendo aqui, vamos precisar de um monte de gaiolas.
- Tá parecendo um filme que eu vi. Era uma fuga de um campo de prisioneiros. Do alto um avião caça passava e metralhava a estrada. Tinha um que se arrastava com as tripas de fora. Outro carregava um colega e caia um braço do corpo. Eu não consegui dormir direito depois do filme.
- E qual é o nome do filme?
- Não me lembro.
- Você tomou muita cerveja cara?
- Não.
- Então foi uma pizza estragada.
- Não, eu não consegui dormir mesmo por causa daquela cena. O do cara se arrastando com as tripas de fora, penduradas pela barriga.
- Ei, tá vendo aquele ali? Parece que levou um tiro e está sendo arrastado por um outro “rato”! Deve ter sido um cara do BOPE, eles atiram prá caramba! Vamos atirar naquele que está carregando uma trouxa na cabeça?
- Não. Pode deixar. Essa cena já é mais triste do que aquela do filme. Que futuro esses caras tem? Uma mãe não pode ver um filho assim.
- Assim como? Tá delirando? 
- Como um cara que levou um tiro em uma estrada de terra. É assim que a mãe dele vai ver!
- Mas eles vão aprontar mais confusão!
- É. Mas hoje não. Guarda o fuzil, vamos lá. Até um “rato” pode virar gente.