O
Sábio e o Presidente
Era uma vez, em um distante
país em nossa imaginação, um grande líder político, amado por grande parte de
seu povo, que foi procurar um grande sábio, que morava perto de uma montanha
nevada que na verdade era um vulcão ativo, afastado da civilização. Ele buscava
respostas para uma pergunta que assolava o seu pensamento de político. Passara
varias noites insones, e questionara os homens mais inteligentes do seu tempo,
mas nenhuma das respostas o satisfizera. Nada para ele parecia fazer sentido,
uma vez que, fizera um governo como ninguém havia feito antes, e por isso, se
achava acima do bem e do mal. Uma vez que, estava impaciente pela resposta ao
enigma que havia proposto, embrenhou-se pelos caminhos ermos, até chegar ao
local onde morava o sábio da luz dourada. Ao chegar perto de um casebre de
madeira, no começo da noite, aos pés do vulcão, chamou pelo sábio, e então, um
velho senhor abriu a porta:
- Quem está ai, que me
importuna, bem a hora de meu jantar?
- Eu o outrora governante
desse país, o maior de todos, o mais perfeito, o amado pelos pobres, o que
nunca erra!
O sábio curioso, uma vez que
sabia que tal homem não podia existir, o convidou a entrar. Uma vez lá dentro,
o governante sem governo, lhe apresentou uma charada que necessitava de uma
resposta direta e perfeita em todos os detalhes. Sem demoras, foi logo
perguntando ao sábio ancestral:
- Meu companheiro, meu
arguto amigo, a grande pergunta, a que vale mais um governo em meu futuro
é: se um governante fosse tão amado por
seu povo, e tivesse tirado da miséria um grande numero de famílias, se tivesse
sido considerado uma das maiores esperanças do mundo no combate a fome, seria
justo se esse homem tivesse seus amigos perseguidos, seu filho escorraçado, e
sua integridade moral posta em prova, ainda mais que representasse a esperança
do futuro de seu país? Seria licito que seus opositores usassem esses fatos
para destruir esse tão bondoso governante?
O sábio esboçou um sorriso e
pegou o governante pelos braços perguntando:
- Meu filho só posso
responder que não e sim.
- Mas como meu sábio, como
assim?
- Não se a verdade estivesse
com o governante, e sim se a verdade estivesse longe dele. O que sente pelo seu
povo?
- Eu os amo!
- Como você ama seus
governados?
- Como um pai ama seus
filhos. Procuro dar-lhes tudo aquilo que lhes foi negado, alimentação adequada,
instrução merecida, e um futuro digno!
- Pois imagine você, que um
governo de outro país que não é perto de nós, criou uma lei que não permite que
os pais conduzam a ação de seus filhos, que mesmo os amando, estão proibidos de
sequer repreendê-los, quanto mais dizê-los o que fazer. Agora pergunto, quando
esse filho erra, a quem deve prestar conta? Uma vez que, a justiça só se
pronuncia quando provocada, e aos pais é proibida o controle sobre os atos de
seus descendentes?
- Mas isso é um absurdo! Se
o pai ama seus filhos deve procurar de todos os meios a seu dispor, que não
caiam em erro, que obedeça a lei acima de tudo! -disse indignado o governante.
- Mas se esse filho corresse
o perigo de ser preso, o pai não poderia se exceder em seu zelo, e tentar
livrar seu filho, com todos os meios que dispõem, mesmo que burle a
justiça? Tal lei, que mencionei, não
serviria para impedir excessos como esses por parte dos pais?
- Eu como grande governante
digo que jamais, permitiria tal lei, e que também nunca permitiria que meu
filho agisse assim!
- Nem mesmo um amigo muito
chegado e companheiro de jornada?
- Muito menos estes!
- Então meu bom homem, o
governante e o pai teriam as mesmas preocupações e responsabilidades?
- Sim meu grande sábio.
- Então respondi sua
pergunta.
- Como assim? – interrogou o
governante curioso.
- É sabido que, um grande
governante, mesmo quando imbuído de verdadeira intenção de ajudar seu povo,
pode se imbuir de tal confiança e certeza de predestinação, que o próprio amor
lhe venha a ser usado como instrumento de império. Que talvez venha em seu
auxilio, aqueles de seu povo, que preferem, em sua ilusão, que amem mais a
figura de seu governante que a lei e a justiça. Muitos são aqueles que se
apaixonam. Muitos são que estão dispostos a passar por cima da lei e da justiça
para verem a concretização de seus sonhos. Mas perguntamos, onde começa o sonho
e onde termina a ilusão de sonho? Onde começa a nossa certeza sobre o bem? Quem
seria a favor de um grande governante, mesmo que servisse aos ditames do mal?
Que seu povo desse a ele e ao seu partido político, salvo conduto para que se
perpetrassem as maiores arbitrariedades? Pois respondo a tudo que me foi questionado
com esse simples pensamento: Não são os reinos, nem mesmo o poder do povo, que
deve se guiar o homem, mas apenas a verdade. Porque a verdade o libertará. A
verdade é tudo que importa. Sem a verdade, somos presos da ilusão de verdade, e
somos até contra ela, quando contrariados em nossos sonhos. Ninguém suporta ver
suas ilusões destruídas. E se revoltarão contra as instituições e derrubarão
todos os livros da lei, para que subsista a figura de seu deus: O bom
governante que não admite que possa errar. Serão terríveis mãos de ferro a
esmagar aqueles que contrariarem os seus sonhos, mesmo que sejam quimeras de
sonhos.
Dito isso, o pequeno e velho
sábio da luz dourada, aquele que morava em um casebre perto de um vulcão, se
despediu do homem que achava que nunca poderia errar. E foi continuar o seu
jantar.
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