domingo, 2 de setembro de 2012


 
Acolhimento

 

- Você gosta de crianças não é Valério?

- Claro minha querida, um dia teremos os nossos. Só um momento, deixe-me ler essa reportagem no computador...

- Mas você gosta de bebezinhos ou de crianças já crescidas? Eu ouvi dizer que são praticamente a mesma coisa, que o que vale é o amor.

- Eu sinceramente não sei. Eu acho que você tem razão. Eu acho.

- É que crianças crescidas não precisam trocar fraldas, não choram a noite, não tem aquela interminável fila de mamadeiras para preparar! Você não acha?

- Você está tão estranha. Você está bem?

- Eu só estou conversando.

- Sei. Você quer dizer alguma coisa, eu te conheço.

- E eu preciso dizer o que afinal?

- E eu sei lá, você é que esta estranha!

- Só porque falei em crianças?

- Não foi o que você falou, foi mais um ton estranho na sua voz.

- Como assim?

- Sei lá, como se quisesse alguma coisa, o seu aniversario já passou lembra? E falta um pouquinho para o natal.

- Mas você é tão insensível com as coisas, não sei por que eu estou com você?

- Mas o que foi que eu disse dessa vez?

- Nada, só que não gosta de crianças!

- Mas eu não disse nada disso!

- Desculpe, eu sei, conheço você. Sei que gosta de crianças!

E assim, Patrícia satisfeita soube em seu coração, que o seu filho, aquele de onze anos de idade, um fruto oculto quase maduro de um antigo adultério, poderia sair das sombras para a luz do sol. Para os olhos de Valério. Em dezembro. Perto do Natal. Bem próximo do casamento.

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