sábado, 30 de outubro de 2010

Conto Dezesseis. Uma Escolha Terrivel.







A Pedra


Aquele rapaz não sabia o porquê de tantas pessoas nervosas. Punhos elevados, elas pareciam a ele que estavam prestes a fazer alguma besteira. Um grande caminhão de som estava cruzado na rua. Uma multidão gritava e aplaudia o homem que falava. Ele era alto, de óculos de aro de prata, e usava um relógio caro, logo deveria ser uma pessoa rica. O rapaz media os outros a sua volta. Via as oportunidades de ganhar algum à custa de qualquer otário que vacilasse. Conseguiu ver uma corrente de ouro no pescoço de uma jovem. Seus olhos se chocaram com um celular nas mãos de um senhor de meia idade, logo ali a sua frente. O rapaz transpirava em gotas. As palmas de suas mãos estavam geladas e tinha uma sensação ruim no estomago. Ele estava com medo. Mas não poderia deixar passar essa oportunidade. Afinal, não era todo dia que encontrava tanta gente junta. Vítimas perfeitas. Passou a mão no queixo de barbas ralas, e começou a contabilizar o lucro futuro. O som aumentara. Ficava mais quente e o numero de vítimas acrescia.
Caminhou para perto das arvores, para junto da moça com a correntinha. Os gritos saiam compassados da multidão. Eram palavras de ordem, ditas com calor e convicção. Ela nem sentiu quando foi alivia do pequeno peso no pescoço. O rapaz era um “perito”. Logo se dirigiu para o senhor do telefone celular. Nessa, ele teve que correr após gestos rápidos e decididos, por conseguinte, aquele havia se mostrado muito mais esperto, e quase melou a jogada. Ele corre. Afasta-se da passeata que ganhava novos adeptos. Virou uma esquina. Dirigi-se para um terreno baldio, para fazer “a contabilidade”. Viu que o telefone celular era ótimo, tinha câmera de alta resolução e acesso a banda larga na internet. A corrente de ouro, também lhe renderia algum dinheiro.
Saiu dali, e foi à casa do “gordo”. Bateu na porta e um negão mal encarado atendeu. O rapaz disse ao sujeito que tinha “um ganho” para negociar. Deixaram-no entrar. Lá dentro “o gordo” avaliou a mercadoria e ofereceu cem reais por tudo. Mas só? Dá no mínimo trezentos! “Só dá cem”-disse ‘o gordo’. Meio contrariado o rapaz aceitou e tratou de sair logo dali, não podia dar mole. Afinal ele tinha outra missão mais importante. O dinheiro tinha um investimento certo. Pegou um ônibus lotado até a parte antiga da cidade. Chegou a um casarão abandonado, onde se via alguns trapos secando ao vento no varal improvisado. Uma mulher magricela o esperava. O rapaz perguntou-“cadê ele?”. Ela apontou para um cômodo desguarnecido. Ele entrou e se aproximou. Lá dentro, na imensidão daquele diminuto quarto, alguém brincava com sua vida. Uma criatura de olhos vermelhos, com um sorriso escondido por trás de uma carranca de imparcialidade estava sentada em uma cadeira velha, como um senhor num trono. A seus pés num pano velho e puído jazia um revolver, uma faca longa e afiada e um pote de cicuta. O rapaz entrou e olhou fixamente para “as coisas” que estavam no pano. A criatura perguntou qual a morte que ele queria hoje. O rapaz apontou para o revólver e entregou o dinheiro. Em um gesto teatral a criatura fez um floreio com o corpo e entregou a arma. Mas avisou: “usar aqui não. Só lá nos fundos da casa”. O rapaz mal podia conter a ânsia. Parecia que uma força mais poderosa que o amor que ele tinha por sua mãe, mais urgente que o ar que um afogado necessita para viver, e mais lógico do que a preservação de sua vida, havia lhe tomado. Ele não pensou em nada, ele não observou nem as flores multicoloridas do fundo da casa. Quando ele acendeu o cachimbo para a primeira vertigem que levaria oito segundos para atingir o seu cérebro. A maldita pedra. Foi como se ele encostasse um revólver na cabeça e apertasse o gatilho. E um pequeno suicídio lhe sacudisse o corpo.


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