sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Conto Doze. O Trabalho Dignifica o Homem, Eu Sei.







Viciado em Trabalho

Estava curvado. Sentia o peso de vários livros nas costas. Sua essência – a desse homem - era de madeira velha, escura e mal acabada. Nogueira endireitou os óculos no rosto e virou-se para a tela do computador. Sentia-se um objeto inanimado, que repentinamente ganhara quatro pernas. A sala estava quente como um forno, e não conseguia encontrar a caneta. Procurou e em alguns minutos achou-a no seu ombro direito. Perto dos livros em sua costa.
Na semana passada, o chefe lhe aconselhou: “toma cuidado com os cupins, que são a causa de vários desastres”. Poderia sentir uma pontada no peito, e por certo, mesmo remotamente, os cupins eram a causa. A umidade também lhe era prejudicial. Assim como um ressequido nas pernas. Para isso, um óleo era salutar.
O verdadeiro desastre para Nogueira, na verdade, foi à perda de Elizete sua amada. Ela não suportou as investidas de uma secretaria assanhada. Uma mulher grande que parecia um armário. Uma cara de peroba mal construída, de linhas planas e marrom tabaco. Essa “biscate” engatou uma gaveta em Nogueira e ai foi à confusão. A calamidade estava feito. O que Nogueira podia fazer? Nada. Ele era viciado em trabalho.




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