sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Conto Onze. Esse Cara Só Pensa em Comida.





Macarronada com Serragem

Estava serrando uma porta de armário.  E como sempre, começou a ter pensamentos diferentes. Sempre se achou meio estranho. Na verdade, tinha idéias, que confundiam suas certezas e afinidades. Gostava de se ver como um gourmet refinado. Embora a família o achasse meio pancadão.  O certo é que naquele dia especifico, suas manias estavam aflorando pelos poros. Estavam saindo aos borbotões junto com o suor do corpo. Os parafusos na boca, o molho ao sugo em sua cabeça. Depois da terceira hora de trabalho o estomago de Giordano já roncava. E nessas horas, a sua fome era tal, que acabava se confundindo nas coisas. Agora por exemplo, sentia-se um talharim com bastante queijo. Mas pensando bem, era um dia frio e nublado, e com toda certeza, preferia que fosse um canelone com molho branco bem quente, com um vinho suave acompanhando, e seguramente, após outra pasta suculenta viria um pudim de ameixa. Mas como poderia se concentrar naquela porta se tinha esses sentimentos fundamentais? Há muito tempo que se sentia assim: como se todo o seu ser fizesse parte da culinária italiana. É certo que uma ou duas vezes quando estava irritado com o mundo, preferia que fosse um prato de peixe frito com batatas fritas. Porém logo caia na real, ele não poderia ser outra coisa senão uma massa. Isso estava escrito dentro de seu intimo, essa era sua essência, o seu destino, não teria outra cara ou outra vestimenta corpórea. Apesar do ar de serragem, das marteladas e do som repetitivo da serra elétrica, Giordano seria sempre uma massa italiana.



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