sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Conto Oito. Brasília e Figuras Nebulosas.





Noite em Brasília

O rapaz narigudo desceu do carro sem gasolina, perto das árvores, próximo a Esplanada dos Ministérios, e pensou ver uma luz curiosa, castanha brilhante logo adiante, e caminhou até aquele lugar. O vento parecia lhe dizer estranhas palavras, escondidas palavras. Frases completas:
“vem Armando, aqui é o lugar que procura”.
Ele passou a mão no rosto suado. E o vento disse mais alguma coisa:
“Os olhos ludibriam mais que uma imaginação expectante”.
No fundo da claridade um local foi tomando forma. Uma força elétrica estava no ar, como milhões de vaga-lumes a dançarem nos seus olhos. Logo sabia onde estava. E não podia esconder o seu espanto. Corpos de seres bizarros: políticos e empresários famosos balançavam em um ritmo frenético, presos na música eletrônica. Naquele momento, enquanto a musica estridente tocava nunca o ridículo lhe parecera tão usual. Nunca Armando tinha visto tanta assimetria escondida por trás de tamanha falta de compostura. Alguns paletós e gravatas atiradas ao ar por malfeitores em plena alcoolização dos sentidos voavam como pedaços de uma história não contada, na luz caleidoscópica. Rostos ignotos fugiam dos ângulos das câmeras. E seus corpos pareciam desaparecer em pleno ar. O mistério era o senhor da festa. A embriaguês e a ilusão. 
Armando ficou chocado e não conseguiu proferir nenhuma palavra. E o vento ainda lhe lançou uma ultima mensagem quase enigmática:
“o que os seus olhos não percebem os celerados exultam”.

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