quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Um Pequeno Conto Para Esquentar.

Um Conto quase uma Crônica



Um Dia de Caminhada


Minha mulher estava uma macaca. Pelo menos era assim que se sentia. Ela me diz que não há nada pior para ela, do que não raspar as pernas e fazer as sobrancelhas. Bobagens, eu digo, mas nesse excesso feminino se esconde o seu comezinho da vaidade, eu sei. Ela faz essa analise estética, enquanto andamos em passos largos pela lagoa de captação, o lugar que escolhemos para a nossa caminhada matinal. O medico recomendou: caminhada e dieta. Sendo assim, só poderíamos obedecer. O sol se espreguiça por trás das nuvens e um alarido de passarinhos nos acompanha quando saímos do “Serrambi Cinco”. Nas voltas circulares que damos todos os dias, encontramos outros caminhantes a procura da eterna juventude. Podemos dizer que são nossos “velhos amigos”, pelo menos em nossa imaginação. Essa de colocar apelido nos outros, é idéia de minha mulher, eu juro! Para cada um desses caminhantes anônimos, que estão como nós à procura da boa saúde existem personagens idealizados segundo as suas características físicas. Devo lembrar que tudo isso é obra de minha mulher. Mulher terrível,não perdoa um defeito.  Temos o casal megafone, um afro magrinho e falador que com sua voz potente alta e rápida o faz a alegria da manhã. Sua companheira não fica atrás nesse atributo, embora nós só a tivéssemos visto uma ou duas vezes. A voz desse companheiro é tão alta que podemos escutá-lo no outro lado da lagoa, conversando, discutindo, cumprimentando a quem passa por ele. Temos “o Cotoco” um moreno baixinho com suas pernas grossas e curtas em seus passos rápidos.  Lá vem “o Ligeirinho” apelido dado por causa do ratinho do desenho animado, ele é um senhor idoso e calmo que paradoxalmente sempre nos passa na caminhada! Quando parece que ele caminha de vagar quase parando! Temos outro personagem de desenho “o papa- léguas” um rapaz ligeiro e magricela, que nos passa em sua corrida. A “patinha” que é uma mulher loura, de mais ou menos um metro e cinqüenta e cinco centímetros, que sempre vem em sentido contraria ao nosso. Temos o “Tatu Peba” um sujeito quase da minha idade com suas pernas arqueadas e seus passos cadenciados. Ah sim, já ia me esquecendo do “Bunda de Pluf”, um sujeito de traseiro amassado. Eu sei, é um apelido irresponsável, mas minha esposa não havia pensado em nenhum outro que se adequasse. Esses são os personagens principais, que fazem nossa caminhada matinal menos monótona. Afinal a imaginação é uma função intelectual, humana e higiênica para nossa sanidade mental. Já é hora de parar e voltar ao “Serrambi Cinco” o nosso ansiado “apê”. O suor escorre quente e relaxante por nosso corpo, É o momento dos alongamentos. Um senhor passa por nós e nos cumprimenta: “bom dia!” os caminhantes diminuem e o sol começa a esquentar. O trafego fica mais perceptível e insensível. Logo, os barulhos do transito, se tornam incômodos a nossa tranquilidade. É o momento de irmos para casa. Amanhã teremos outra oportunidade de eliminar as toxinas que nos perturbam o corpo, em sua artimanha silenciosa. E então reencontraremos esses “velhos amigos”, e veremos o céu azul, o gorjeio dos passarinhos e agradeceremos mais esse dia de caminhada.

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