O
Anjo no Shopping
Ele
gostava das crianças. Sentia uma atração especial por vestidos rosa, lacinhos,
sapatinhos e denguinhos. Gostava de ir a aquele lugar, de ver as lojas, de
lanchar no espaço gastronômico, e procurava os lugares onde elas adoravam ficar.
Ele era um homem doente, já maduro, cabeludo e cheio, com alguns quilos a mais.
Isso o incomodava, ele se achava antiestético. Talvez isso fosse uma das causas
que o fazia gostar tanto das peles jovens. Seus olhos ávidos devoravam as
imagens daqueles pequeninos, os desejos densos e carregados de impurezas
daquele homem, frutavam ao seu rosto um jeito amaldiçoado. Com um nervosismo
incontido passou uma língua úmida e pegajosa nos lábios. No transe
psicossomático, o seu corpo dava leves tremores e repuxões, enquanto uma
garçonete lhe servia mais um sanduiche. Abriu um caderninho e começou a anotar
alguns dados. Mas que território de busca! Ele estava feliz, e num gesto
automático, puxava um cacho de cabelos grisalhos. Levantou a cabeça e os seus olhos,
logo adiante descobria uma área de lazer infantil, que lhe oferecia um belo
espaço com brinquedos, doces, balões coloridos de gás e palhaços, uma visão
digna de uma fotografia eterna.
Quando
ele cria que estava no paraíso. Fez-se a luz. Num momento crucial, de
ordenamento divino. O anjo vingador surgiu. O homem doente estava sentado e
comia um sanduiche, mas viu aquela forma luminosa de longe, descendo na escada
rolante. “Como poderia ser? Até ali ele o perseguia, mas que
desgraçado!”-pensou o homem. A forma luminosa se aproximou lentamente,
invisível para as outras pessoas. Ele tentou se esconder por trás de um boné e
óculos escuros. Mas foi em vão. Ao chegar perto da mesa a luz, aos olhos
daquele homem indecente, se transformou em um senhor de ternos claros e camisa
branca, esse estranho que chegou assim de modo tão manso, calmamente sentou-se
junto do homem de cabelos longos, agora disfarçado:
-mas
você está aqui de novo, incomodando as criancinhas! Será que você não vai aprender?
Eu tinha lhe avisado, lembra? Dessa vez teremos que ser mais severos com você.
-mas
eu não estou fazendo nada, eu estou comendo um sanduiche.
-e
também está anotando no seu caderninho as características e os hábitos dessas
crianças, o que elas gostam ou não. Acertei?
-não
é nada disso...
-não
adianta nos enganar. Conhecemos o seu “modus
operandi”. Sabemos de todas as suas perversões e pesadelos. Você
simplesmente não consegue se controlar, não é mesmo?
-mas
eu já disse que não estava fazendo nada!
-infelizmente
para você, estivemos na sua casa antes de vir aqui, e encontramos a sua coleção
de vídeos e fotos. Os endereços e anotações sobre as crianças do bairro. É
dessa vez pegamos você.
Diante
dessas provas comprometedoras, o homem doente esboçou um esgar contido. Dois policiais
se aproximaram e agarraram o teimoso pelos braços. Ele ainda tentou argumentar,
mas aquele senhor era implacável. Ele não estava ali à toa, a sua missão divina
era a de prender pessoas como aquelas. Além do distintivo, ele tinha a
autoridade e a moral. Parecia que ele tinha sido enviado pelos céus para
cumprir aquela missão.
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